Revolução do Blogs

abril 13, 2008 at 10:27 pm (Resenhas & afins)

Há aproximadamente dois anos começaram a surgir diversos blogs postando música para serem baixados pela internet. Tem para todos os estilos musicais. Uma fantástica revolução musical invadindo a grande a rede de computadores.

Trata-se de uma espécie de “anarquismo pós-moderno” que está possibilitando que a gente consiga ter acesso a discos que imaginávamos jamais ouvir. Isso porque as grandes gravadoras não têm interesse em relança-los em cd, acreditando que os mesmos não terão muita procura. Com isso, lendárias discos da música brasileira e mundial, foram esquecidos nos depósitos dessas gravadoras, quando não tiveram suas cópias originais incineradas.

Mas aí surgiram muitas pessoas idealistas e abnegadas que estão prestando um grande favor à música contemporânea. Eles fazem a conversão das músicas do antigo e fabuloso vinil para a linguagem MP3 e disponibilizam esses discos gratuitamente através da internet.

Esse movimento é mundial e, portanto, verdadeiros fenômenos musicais relegados ao esquecimento estão sendo resgatados das estantes de todas as partes do mundo e surgindo “mais novos” do que nunca em nossos computadores. Trata-se de um trabalho magnífico que desafia a lógica do capitalismo moderno que descarta o passado em favor dos lançamentos recentes, a maioria, de gosto duvidoso. Por isso, pérolas do passado são abandonados pelas gravadoras. Daí a importância dos chamados “blogueiros”, afinal, estão preservando a memória musical do século XX.

Vou me ater a comentar, especialmente, sobre os blogs especializados em música brasileira. Quando eu iniciei o processo de “aquisição” de discos através desse mecanismo, baixava música de todos os estilos. Eu e dois amigos, Rafael e Manoel, havíamos criado a rádio virtual – http://www.radioweb.bocalivre.org – Nos primeiros dez meses de trabalho com a rádio a gente tocava música do mundo todo. Depois decidimos nos dedicar à grande música brasileira. Foi uma decisão muito difícil, pois acreditamos que esta manifestação artística não tem bandeira. A música transcende as fronteiras geográficas e idiomáticas. Mas nos lembramos de Alberto Caeiro:

“O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.” (Alberto Caeiro – Heterônimo de Fernando Pessoa)

Então, a partir desse momento decidimos tocar somente música brasileira. No início foi estranho, mas depois percebemos que havíamos feito a melhor escolha. Antes a gente não tinha uma identidade. Mas tocando apenas música brasileira, pudemos nos aprofundar nas pesquisas. Melhor pra mim que, desde o início das minhas aquisições de discos de vinil há vinte e cinco anos atrás, ficara muito claro minha preferência pela música brasileira. Portanto, ao longo de quase três anos, Boca Livre se tornou um verdadeiro celeiro dos grandes talentos musicais do Brasil que se verifica em sua da enorme diversidade de ritmos.

Mas grande revolução na Boca Livre aconteceu, de fato, quando descobri, em meados do ano de 2006, o primeiro blog que postava música brasileira. Desde então, baixei muitas pérolas da música brasileira e conheci outros tantos blogs fantásticos. Os cinco mais feras estão na página principal do site da rádio. Quando os escolhi, não estava, de maneira alguma depreciando os demais. No entanto, os blogs Som Barato, Um Que Tenha, Cápsula da Cultura, Loronix, Música da Boa e Abracadabra são extremamente profissionais, em detrimento de realizarem esse trabalho sem nenhuma remuneração. Isso é que torna o fenômeno dos blogs algo extraordinário. Assim como a rádio Boca Livre, nosso maior objetivo é possibilitar que a grande música Tupiniquim chegue à população brasileira e ao resto do mundo.

Os blogs são responsáveis pelo novo fenômeno da revitalização da música brasileira. Muitos artistas praticamente desconhecidos do grande público, inicialmente, reclamaram seus “direitos autorais” por terem seus discos postados na internet pelos blogueiros. Mas para surpresa de muitos deles, quando foram fazer shows em cidades que imaginavam que quase ninguém os conhecia, perceberam muita gente cantando suas músicas. Isso só aconteceu devido ao trabalho dedicado dos nossos grandes parceiros, criadores dos blogs.

O meu objetivo com esse artigo era agradecer e enfatizar a importância desses blogs em minha vida, bem como para a rádio Boca Livre e, creio, pra muita gente que acessa a nossa rádio. Em apenas um ano e meio tive acesso à tesouros da música brasileira que tanto sonhava e que, jamais encontrei em “Sebo” algum. Outras vezes, quando me deparava com algum deles, simplesmente, não tinha dinheiro para pagar a fortuna pedida pelos donos dos sebos. Hoje, não apenas eu desfruto desses discos, mas os compartilho com os parceiros da rádio Boca Livre.

O melhor dessa descoberta dos blogs não foi apenas ter conseguido baixar discos que tanto sonhei, mas conhecer dezenas de grandes músicos brasileiros que jamais ouvira falar. A lista é enorme, mas cito três que me marcaram profundamente: os geniais Moacir Santos, Laurindo Almeida e Kátia de França.

Obrigado a todos os blogueiros que dedicam um tempo precioso de suas vidas em favor da música, especialmente, a nossa grande música brasileira. Muitíssimo obrigado!!!

 Texto de Marquinho Carvalho extraído de http://www.capsuladacultura.com.br/blog/

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O novo rock do Brasil

março 29, 2008 at 6:11 pm (Resenhas & afins) ()

Foi na segunda metade dos anos 90 que toda uma geração de músicos brasileiros começou a perceber que havia algo de podre no reino da indústria fonográfica. A expansão do acesso à internet e às novas tecnologias possibilitou uma troca de informações sobre a música produzida fora do mainstream como nunca antes havia acontecido. A produção independente começou a circular a uma velocidade crescente e logo foi possível constatar que o que havia de melhor, mais criativo e genuíno na música jovem feita no Brasil estava à margem das grandes gravadoras e estações comerciais de rádio.Por um breve momento, acreditou-se que a circulação da música independente seria uma chance de renovação do mercado, com a aposta das gravadoras em novos nomes dessa emergente cena. Essa crença durou pouco, felizmente. Rapidamente, essa mesma geração de artistas descobriu que havia um caminho próprio para trilhar, longe de uma visão desgastada da indústria, e assumiu de vez sua condição de independente. Hoje, apenas uma década depois do início dessa revolução musical, existe no Brasil um grande movimento de bandas, produtores, jornalistas e pessoas interessadas em nova e boa música, fazendo a cultura da música jovem brasileira avançar.As novas tecnologias possibilitaram não só a divulgação da música, mas também o lançamento de discos cada vez mais bem produzidos, dando qualidade técnica à criatividade dos músicos. Com isso, selos surgiram e começaram a dar corpo a um mercado paralelo. Ao mesmo tempo, produtores de festivais independentes passaram a realizar eventos por todo o país, o que levou à criação, em 2006, da Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin). Hoje, os festivais servem de plataforma para centenas de bandas, contribuindo para a divulgação da nova música e formação de público.Esta coletânea inédita que a Brazuca disponibiliza para download livre é uma prova da qualidade e diversidade da música produzida hoje no cenário independente brasileiro. Nela estão artistas e bandas dos mais diferentes estados do Brasil, do Rio Grande do Sul ao Acre, passando pelo Mato Grosso e Goiás, entre outros. No som, um rock moderno, de variadas tonalidades, com uma poética sintonizada com os novos tempos do país e do mundo. Um cenário tão rico que pode render, certamente, muitas outras coletâneas, tão boas como essa, com seleção da Agência & Revista Senhor F – que acompanha esse processo desde o final dos anos noventa.

Fernando Rosa, editor de Senhor F

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O que ando ouvindo

março 27, 2008 at 8:27 pm (Resenhas & afins) ()

A quem quer que esteja lendo este blog

O que ando ouvindo nasceu naturalmente, espontaneamente, como um bom passeio, mas a inspiração para o nome vem de minhas caminhadas profissionais, na condição de leiturista do departamento de água e esgoto da cidade em que atualmente me encontro (ou será que me perco?). “Leiturista” é o nome que consta no contrato de trabalho (o corretor ortográfico do editor de texto em que agora rascunho rejeita a palavra e não oferece nenhuma sugestão). Os mais antigos de ofício costumam usar o termo “ledor”. Atualmente, a maioria das pessoas diria “leitor”. Enfim, é uma questão de interpretação e convenção. É uma questão de interpretação à medida que o que fazemos não é ler, no sentido de interpretar, mas apenas ler, no sentido de reconhecer um código e tranferí-lo (copiar) para o equipamento moderno com o qual trabalhamos. Mas é exatamente este detalhe lingüístico-aplicado o que possibilitou e acabou ajudando a gerar este blog que agora surge. Pois se tivéssemos de interpretar alguma coisa, o trabalho requereria demasiada atenção para que nenhum detalhe nos escapasse. Mas como é uma questão (mecânica) de copiar, copiar, copiar…e copiar, tornou-se quase obrigatório para mim exercitar as outras partes do meu cérebro que não estavam a copiar. E nestes dias da popularização dos tocadores portáteis de música digital, da música livre nos blog’s, uma pessoa sempre envolvida com a música como eu não conseguiria nem pensar em sair de casa para uma caminhada de 15 a 20 km, realizando uma tarefa mecânica, sem levar no bolso o aparelhinho de tocar. Então, é “o que ando ouvindo” literalmente, o que eu ouço enquanto trabalho e também em outras caminhadas por aí. É o que eu ando encontrando enquanto “caminho” pela web a partir da minha janela.

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